Teste vocacional ou orientação profissional? Entenda as diferenças

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Há tempos relativamente recentes na história da humanidade, os jovens escolhiam suas profissões a partir da atividade exercida por seus pais durante toda a vida. Em nosso tempo, esse cenário mudou, e os adolescentes têm a oportunidade de decidir por profissões que têm mais a ver com suas características e expectativas próprias. Surge então a dúvida: teste vocacional é a mesma coisa do que orientação profissional?

Nessa época atribulada, é comum que os jovens e até mesmo seus pais não tenham clareza sobre como resolver a questão da escolha profissional, fazendo confusão entre orientação profissional e os popularmente conhecidos testes vocacionais, facilmente encontrados online.

Além disso, o mundo do trabalho contemporâneo traz consigo uma enorme complexidade nas relações de trabalho, de tecnologia e de mercado, o que por sua vez gera uma abundância de informações nada fáceis de navegar por quem possui pouca experiência de vida e precisa escolher uma profissão.

Essa demanda, imposta pela sociedade ao adolescente em fins de terminar o ensino médio, acaba por confundir e assustar aqueles que recém começaram a pensar no mercado de trabalho e em um futuro em que serão responsáveis pelo seu sustento e realizações.

Para sanar esta dúvida de uma vez por todas, fizemos um texto demonstrando a diferença entre orientação profissional e o teste vocacional, qual deles é o mais indicado, qual a diferença entre testes vocacionais e testes psicológicos e qual é o papel do psicólogo nesse processo. Está pronto? Então vamos lá!

O que é o teste vocacional?

O teste vocacional é um conceito antigo, sendo relacionado à ideia de um exame capaz de apontar qual carreira uma pessoa deve seguir. No entanto, essa não seria uma carreira qualquer, mas àquela que seria sua vocação. A palavra procede do latim “vocare”, que se traduz por chamar, invocar.

Derivada do contexto religioso, a vocação significa o ato de ser chamado ou predestinado para determinado fim. Ou seja, uma inclinação ou predisposição para certa profissão, estudo ou arte, como se houvesse uma profissão certa destinada a cada pessoa (o que não existe).

Ainda hoje é muito comum ouvir de pais que buscam orientação profissional para os filhos a seguinte pergunta: “você aplica o teste vocacional?”. Muitos esperam também que em uma consulta e com a aplicação deste teste, o filho decida por uma profissão que o acompanhará, senão o resto da vida, pelo menos por muitos anos.

Muito comum também é o fato de adolescentes esperarem de um psicólogo um teste que resolva seu problema sem necessidade nenhuma de reflexão ou conhecimento acerca de tudo que cerca o mundo das profissões. É como se as pessoas tivessem o desejo de que existisse algum exame mágico para apontar qual direção seguir, como os exames laboratoriais ou clínicos que fazemos quando vamos ao médico.

Em pesquisas na internet, é possível encontrar inúmeros exemplos de testes vocacionais, realizados com o intuito de identificar profissões ou áreas do conhecimento que mais se adequam aos interesses e características de personalidade de um indivíduo. No entanto, esses testes não apresentam nenhum embasamento científico, o que não lhes confere confiabilidade e muito menos efetividade.

Testes vocacionais são testes psicológicos?

Não, pois os testes vocacionais não têm nenhum compromisso com a questão científica ou ética da Psicologia, geralmente se constituindo de um apanhado de perguntas que visa indicar uma preferência por uma área de conhecimento. O embasamento destes exemplares não é claro, diferentemente dos testes psicológicos, que se fundamentam na ciência psicológica e que por vezes demoram anos para serem desenvolvidos e testados.

Pela legislação brasileira, apenas psicólogos com registro no Conselho Regional de Psicologia (CFP) estão autorizados a aplicar e interpretar testes psicológicos. O psicólogo precisa ter uma capacitação específica para saber aplicar e interpretar os resultados dos testes que usa em sua prática, inclusive os testes de orientação profissional.

Além disso, é preciso lembrar que um teste não resolve um problema, ou você já foi curado de um osso quebrado só por ter feito um exame de imagem? Assim como na medicina, os testes psicológicos têm uma finalidade diagnóstica, ou seja, detectar as forças e fraquezas em uma determinada área e auxiliar o psicólogo a trabalhar com elas durante as sessões de orientação ou de psicoterapia.

O que é orientação profissional?

Orientação profissional é o termo genérico que descreve o serviço que ajuda as pessoas na identificação de projetos profissionais alinhados a seus talentos e estilo de vida. Tradicionalmente, a orientação profissional se dirige a adolescentes, jovens adultos e vestibulandos que buscam escolher a primeira profissão ou atividade de trabalho.

O objetivo da orientação é identificar interesses, habilidades, aspectos de personalidade e valores pessoais dos orientandos, guiando a pesquisa e a análise sobre as profissões e o mercado de trabalho e acompanhando o cliente na tomada da decisão mais alinhada aos seus objetivos de vida.

Esse tipo de orientação é realizada por um psicólogo e utiliza-se dos referenciais teórico-científicos da Psicologia, especialmente da área de psicologia do trabalho e carreira, para guiar um processo de escolha, complexo por natureza e que inclui variáveis sociais, econômicas, familiares e individuais.

Dependendo do referencial teórico e do método de trabalho do psicólogo, este processo pode utilizar também, para além da escuta e do diálogo, testes psicológicos adequados a cada caso, além de outras técnicas e ferramentas que não sejam de uso privativo do psicólogo, desde que estes recursos complementares tenham fundamentação científica.

 

O tripé da orientação profissional da OPTIO

As psicólogas da OPTIO desenvolveram um método próprio designado de “tripé da OP”, que consiste em três etapas distintas durante a orientação, e que utiliza tanto as entrevistas psicológicas quanto testes psicológicos e outros instrumentos de reflexão, inclusive de autoria própria. As etapas são:

 

1. Escolhas: nesta etapa avalia-se a maturidade do adolescente para fazer escolhas, esclarecendo os aspectos que devem ser levados em conta na tomada de uma decisão de carreira e estimulando a autonomia necessária do orientando para tanto.

2. Autoconhecimento: é a etapa mais longa, onde se trabalha com o orientando a descoberta e reflexão de seus interesses, aptidões, características de personalidade, valores, histórico de vida e expectativas de futuro.

3. Informação Profissional: é a última etapa, em que se discute com o jovem sobre o mercado de trabalho e os cursos de formação, pois é necessário que o orientando tenha o máximo de informações possíveis sobre a realidade profissional e educacional e sobre as profissões de interesse que foram se delineando na etapa anterior.

 

Após esse processo, o jovem estará apto a escolher uma profissão e um curso de formação para o exercício desta profissão, seja um curso universitário ou técnico. Mas mais que isso, a orientação possibilitará que ele construa um projeto de vida que vá além da vida profissional, levando em consideração sua relação com as outras pessoas, estilo de vida e sonhos.

Pode-se perceber então que a orientação profissional ultrapassa a aplicação de um teste vocacional, desenvolvendo com o jovem a habilidade de fazer escolhas guiadas por um projeto de vida autônomo por meio do conhecimento de si e do mundo do trabalho.

Quais testes psicológicos são utilizados em orientação profissional?

Como mencionado, cada psicólogo utilizará um instrumental de acordo com sua abordagem teórica e prática clínica. No entanto, há alguns testes psicológicos que são muito utilizados por terem sido desenvolvidos especificamente para a área de orientação profissional.

Dois exemplos são o EMEP (Escala de Maturidade para a Escolha Profissional) e o AIP (Avaliação dos Interesses Profissionais), desenvolvidos por pesquisadoras e psicólogas orientadoras profissionais. Ambos os testes foram aprovados pelo Sistema Avaliador de Testes Psicológicos (SATEPSI), órgão do CFP que garante as evidências de validade psicométrica e a confiabilidade destes instrumentos.

A utilização de testes de personalidade também pode ser proveitosa para a prática clínica da orientação profissional, tais como o QUATI (Questionário de Avaliação Tipológica) ou o NEO PI-R (Inventário de Personalidade NEO Revisado).

Além disso, o psicólogo pode suspeitar que a dificuldade da escolha da profissão pode estar relacionada a fatores que extrapolam o escopo da orientação profissional, e pode utilizar testes apropriados para sanar estas suspeitas, como testes cognitivos ou neuropsicológicos (como em um caso de TDAH, por exemplo). O mais comum, no entanto, é que o orientador encaminhe o jovem para um psicólogo especializado.

Também pode acontecer das dificuldades de um orientando estarem relacionadas a um processo de adoecimento psicológico, como um luto mal elaborado, por exemplo, sendo necessário interromper o processo de orientação para iniciar uma psicoterapia ou psicanálise, até que o jovem tenha condições de fazer uma orientação profissional.

 

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Tarsia Paula Piovesan Farias

CRP-12/17900

 

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