Sobre “escolhas erradas”

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Escolhas Erradas

Uma das coisas que fatalmente todo ser humano está encarregado de fazer são escolhas. Das mais banais às mais complexas, nos defrontamos inevitavelmente com uma porção delas diariamente. Há quem goste de reduzir suas possibilidades de escolha para otimizar seu tempo, como Mark Zuckerberg, Steve Jobs e Barack Obama.

Inclusive, há relatos de que Steve Jobs iniciou a prática de reduzir ao máximo suas escolhas de vestuário com um guarda-roupa enxuto por influência de uma empresa japonesa. Em visita à companhia, Jobs descobriu uma visão peculiar em relação às roupas que os funcionários usavam: uniformes sempre iguais. O propósito era diminuir a fadiga de escolha, isto é, o tempo despendido com o excesso de escolhas, tornando os funcionários mais produtivos.

Entretanto, otimizar escolhas diminuindo o “cardápio” de opções nem sempre é uma prática viável. Nós da OPTIO lidamos diariamente com questões de indecisão de nossos orientandos e pacientes. Após anos de prática e embasamento teórico na área de Orientação Profissional e de Carreira, Psicologia Clínica e Psicanálise, percebemos que fazer “escolhas erradas” é o grande temor de muita gente. E não estamos falando das escolhas diárias, tais como que roupa vestir, mas de decisões que norteiam parte importante dos acontecimentos à longo prazo.

Essas decisões incluem a escolha de uma profissão ou parar de trabalhar em tempo integral para se dedicar à família, por exemplo. Ou mesmo ter que decidir se aceita ou não uma proposta para trabalhar numa empresa que paga melhor mas fica longe de casa. A lista é longa, pois escolhas importantes precisam ser feitas durante toda a vida.

O real dilema sobre fazer escolhas

 

Meryl Streep no filme Escolha de Sofia
Cena do filme Escolha de Sofia

“Escolhas erradas” ou “Escolha de Sofia”?

A ideia de “escolhas erradas” é tão presente em nossa cultura que um filme ficou famoso justamente por ilustrar a questão. Estrelado pela atriz Meryl Streep, “A Escolha de Sofia” narra a difícil vida da personagem e uma decisão angustiante que ela se vê obrigada a tomar em meio à um cenário catastrófico na Segunda Guerra Mundial.

O filme ficou tão conhecido que talvez você já tenha ouvido a expressão “escolha de Sofia” para designar o risco de fazer uma “escolha errada”. Se você já assistiu a este filme, sabe bem qual é a sensação de descobrir qual é a escolha que Sofia é obrigada a fazer e qual são as consequências dela. É avassalador!

O dilema da decisão contém uma questão que pode passar despercebida em nosso processo decisório, seja nas singelas escolhas cotidianas ou em quaisquer outras que possam causar algum tipo de impacto ético, financeiro ou político.

O real dilema sobre fazer escolhas trata-se do fato de que ao escolher o que julgamos ser o melhor, estamos concomitantemente decidindo desistir de algo. Essa é a verdadeira dificuldade de se fazer escolhas, o fato de que estamos perdendo algo do qual precisamos abrir mão, pois uma escolha sempre se faz em detrimento de outra. 

 

A dificuldade de fazer escolhas

Nesse ponto a questão se abre e saímos de um ponto de vista ético, ou seja, do juízo que fazemos sobre a escolha ser boa ou má, e seguimos para a questão nevrálgica que constitui todo ato voluntário da escolha: escolher também é desistir.

Ainda que sejamos os autores dessa desistência, fazer escolhas é mais uma daquelas situações em que ficamos frente a frente com a frustração, com as limitações da existência e com a natureza conflituosa do ser humano: a frustração da não satisfação.

Isso fica mais evidente nas situações que demoramos demasiadamente para fazer uma escolha e sofremos “a dor da dúvida”. Quase sempre essas situações apontam para a dificuldade que temos de abrir mão de possibilidades que gostaríamos de manter.

Quando as coisas não acontecem como gostaríamos, nos sentimos frustrados, e é isso que evitamos ao postergar uma decisão: saber que ao escolher perdemos. Isso nos coloca diante do fato de que somos seres em falta, apenas provisoriamente completos, pois apenas em alguns momentos as coisas se encaixam com nossas vontades. Evitar esse mal-estar a fim de não desistir de algo pode resultar em dificuldades para tomar uma posição ativa na vida. Para isso, precisamos ter consciência das limitações a que estamos sujeitos.

 

As “escolhas erradas” mais frequentes: a escolha dependente e decisões por impulso

 

Foto de quadro com frase em inglês

 

Ainda que você evite postergar decisões, pode ser que esteja escolhendo de modo pouco “consciente”. Isso acontece muito nas situações em que decidimos coisas por impulso, pressionados por demandas externas ou que partem de nós mesmos. Também podemos fazer escolhas alienadas, ou seja, aquelas baseadas em crenças externas a nós, verbalizadas diretamente ou não, e que podem inclusive ser as principais motivações de uma decisão.

É o que chamamos de escolha dependente, isto é, o tipo de escolha que tenta cumprir as expectativas de pessoas importantes para nós.  Além disso, nem sempre a pessoa que toma uma decisão se dá conta da influência destas crenças em suas escolhas.

Atendendo às expectativas alheias: a escolha dependente

Em nossa prática nos deparamos frequentemente com a escolha dependente em processos relacionados à decisões de médio e longo prazo, como a escolha de uma profissão. Presenciamos muitos de nossos orientandos tomarem decisões de carreira importantes em função daquilo que outros pensam a seu respeito.

Frequentemente, jovens que tem alto desempenho escolar optam por profissões que podem gerar status, como Direito, Medicina e Engenharias, influenciados por opiniões de pessoas ao seu redor que pensam que alguém com boas notas na escola não deve perder a oportunidade de ocupar cargos com prestígio social e recompensas financeiras.

Não se trata de preconceito com o status, que pode ser útil como critério de escolha para algumas pessoas, mas das afinidades que as pessoas apresentam com as características das profissões. É preciso pensar no dia-a-dia do trabalho do profissional – quais são as tarefas que alguém que opta por ser médico ou engenheiro se defrontará em sua rotina? Será preciso considerar se isso faz sentido para além do prestígio e do dinheiro que o trabalho possa gerar.

As condições diárias de uma atividade de trabalho e os interesses e habilidades que motivam um profissional são dados que somente o próprio sujeito que opta por uma profissão pode julgar como relevantes ou não para si próprio. As outras pessoas, no máximo, auxiliam com sua visão sobre o mundo do trabalho.

Além disso, atribuir à outras pessoas a responsabilidade de escolher por si priva o sujeito da recompensa de sentir-se ativo diante da vida e de aprender sobre as suas limitações, habilidade que será útil ao ter que lidar com as frustrações comuns diante de perdas, que são inevitáveis ao longo da vida.

 

As decisões por impulso

Certamente você já passou por situações em que teve que fazer uma escolha prontamente. Algumas situações, inclusive, ativam mecanismos biológicos que disparam uma resposta quase automática em uma situação adversa, como é o caso do mecanismo neurofisiológico de luta ou fuga. Aprendizados que foram devidamente assimilados também disparam uma resposta irrefletida, como quando passamos a mão na buzina se uma pessoa nos atrapalha no trânsito.

As decisões por impulso não acontecem somente em casos de resposta automática, pois um jovem pode decidir de modo impulsivo o curso para o qual prestará vestibular. Nesse caso, a situação demanda pesquisa e reflexão para a tomada de decisão, pois terá consequências de longo alcance na vida desse jovem.

No entanto, confrontada com muitas possibilidades de escolha, a pessoa preferiu evitar pensar sobre si mesma e sobre as profissões e o mercado de trabalho, pois isto gera incertezas e angústias. Decisões tomadas irrefletidamente raramente resultam em uma escolha adequada, apenas adiando o trabalho de pesquisa e reflexão que precisará necessariamente ser feito.

 

As consequências de não escolher

 

Mulher com setas em três direções

 

É comum conhecermos em nossa vida pessoas que postergam suas decisões, como aqueles casais que terminam e retomam o relacionamento várias vezes, evitando romper o vínculo em definitivo ou fazer algo radical para transformá-lo. Outro exemplo são trabalhadores que estão constantemente insatisfeitos no trabalho mas eximem-se de procurar as causas do problema ou mudar de empregou ou ocupação.

Paul Sartre, filósofo existencialista francês, coloca o tema sob outro enfoque: mesmo que não se faça uma escolha, está se optando por algo. Ou seja, é impossível não escolher. O que o filósofo quis dizer é que quando você se abstém de decidir algo em virtude das consequências que possam ocorrer, sentirá certo relaxamento, isto é, um alívio efêmero por ter se livrado da tarefa naquele momento, mas ainda assim estará fazendo uma escolha.

Sartre postulava que ao não decidir algo, perde-se a possibilidade de responsabilizar-se sobre si e de ser “protagonista” da própria vida. Tida por alguns como radical, a tese sartreana aponta para a ideia que o ser humano constrói-se “como pessoa” justamente apropriando-se de forma comprometida de suas próprias decisões.

Essa ideia relaciona-se com a noção de liberdade do filósofo e também com o trabalho de sua companheira, a famosa feminista Simone de Beauvoir. Para ambos os autores, ser livre é poder fazer escolhas, ainda que existam limites anteriores a ela.

 

Fiz uma “escolha errada”, e agora?

 

Mulher com espelho de maquiagem na mão

 

Se você chegou até aqui, já entendeu que não há atalhos definitivos ou “caminhos mais fáceis” quando o tema são escolhas. Por exemplo: imagine um jovem que escolheu uma profissão e obteve os retornos esperados, sentindo-se satisfeito no mercado de trabalho. Certamente esse fato lhe trará uma segurança maior em processos de escolha futuros de sua carreira.

No entanto, se ele tiver feito uma “escolha errada” e precisar desistir do curso escolhido, terá possibilidade de rever seus próprios critérios de escolha. Além disso, poderá buscar mais informações sobre si ou sobre o mundo do trabalho para tomar decisões de carreira importantes.

Salientamos, entretanto, que se você nunca tomou decisões equivocadas na vida, talvez ainda não tenha chegado a sua vez, pois todo mundo um dia fez ou fará “escolhas erradas”! Evitamos as “más escolhas” e as vezes acreditamos ter total controle sobre a vida.

Porém, paradoxalmente, é a experiência de ter feito escolhas que não corresponderam à expectativa, a consciência de que se errou e a observação do que foi inadequado neste caminho que darão a bagagem para você se tornar cada vez mais assertivo em suas decisões lá na frente. Observe os aprendizados que a vida inevitavelmente oferece e considere-os quando for tomar uma decisão sobre coisas importantes!

Além disso, é bom lembrar que a “escolha errada” pode não ter sido necessariamente um erro, mas a melhor decisão que você pode tomar com as informações de que dispunha sobre si e sobre o mundo naquele momento.

É por isso que passar por um processo de orientação profissional e de carreira lhe dá condições de identificar seus principais interesses, competências e habilidades e entender como eles podem ser desenvolvidos. Assim, você consegue tomar decisões mais condizentes com seu projeto de vida e carreira.

 

Gostou? Quer saber mais? Para descobrir quais são suas âncoras de carreira e qual é seu perfil de personalidade profissional, entre em contato com a gente! Conheça também os serviços de orientação profissional que oferecemos e como podemos ajudar você a escolher profissão e tomar decisões de vida e de carreira.

 

Olívia Unbehaun Leal da Silva

CRP 12/12734

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